Com as reformas que estão acontecendo na escola, consideramos importante colocar alguns aspectos que revelam a necessidade de construir com a comunidade noções sobre o cuidar do patrimônio escolar. Para isso, transcrevemos um trecho do artigo "Patrimônio com educação", de Mariza Guerra de Andrade (fonte: revista Presença Pedagógica, v.13, n.73, jan/fev 2007), autora que preconiza os seguintes verbos educativos do patrimônio: CRIAR, INVENTAR, DISCUTIR, PRESERVAR E DISTRIBUIR.
" O conceito de patrimônio, no Ocidente é, como se sabe, antigo e histórico, pois o seu sentido e a sua interpretação passaram por variações e mudanças ao longo do tempo. Mas, no geral, esse conceito se relaciona à herança, à doação do passado, a algo que foi legado, transmitido e permaneceu com relativa continuidade de direitos.
Posteriormente, o conceito de patrimônio se modificou, passando a incorporar a noção de perda da continuidade da herança ou da tradição sustentada em privilégios particulares. Da noção de algo privado ("pater", pai, pátria, heranças legadas) seu sentido se ampliou para a noção pública (para todos, de todos).
Essa mudança está, claro, muito relacionada à entrada de outros sujeitos sociais na cena pública, reivindicando e conquistando seus direitos e, ainda, às prerrogativas que configuram o sujeito coletivo, social ou ainda à luta dos cidadãos.
A adjetivação ao termo patrimônio, imprimindo-lhe uma pluralidade de sentidos, também merece ser destacada: patrimônio arquitetônico/edificado, patrimônio histórico, patrimônio genético, patrimônio artístico, patrimônio natural/ambiental, [patrimônio cultural]. (...) O patrimônio, mais recentemente, recebeu ainda as designações de "material" e "imaterial", de modo a contemplar a sua objetividade material e a sua subjetividade nos modos de criar, pensar, crer etc.
(...) Uma sociedade que não respeita e nem valoriza o seu patrimônio revela abertamente que perdeu suas referências ou mesmo suas marcas de identidade - sempre refeitas. O caminho da defesa do patrimônio é irregular. Trata-se, por vezes, de uma rota interrompida, com durações próprias e possíveis, mas nem por isso as forças sociais ativas devem negligenciar suas estratégias de preservação que se operam em um campo de forças, de jogos simbólicos e trocas político-culturais. Por isso, às vezes, é necessário reestruturar e refazer seus projetos de intervenção, pois o principal argumento da proteção do patrimônio está sempre no significado atribuído a ele e na consciência da necessidade vital de sua manutenção.
(...) Como a escola é espaço intransferível pela sua dimensão e importância, talvez seja importante lembrar que cabe a ela refletir sobre os sentidos mais sentidos ou significativos do presente, para agir de fato no trabalho com o patrimônio. Convém repensar os espaços físico-sociais da escola, sua comunidade e sua cultura, no sentido largo. Convém ainda redimensionar o ensino e a pesquisa, juntos, pois esse trabalho requer investigação, levantamento de dados, conhecimento gerado e produzido, "trabalho de memória".
Em síntese, é necessário e urgente fazer um trabalho vivo, que tenha visibilidade e dizibilidade ao seu redor ou à sensibilidade coletiva. A formação de uma consciência preservacionista se faz principalmente em locais de reflexão e ação, o que não é outra coisa senão "o lugar" da escola na sociedade. (...) Convém, assim, prestarmos uma boa atenção aos verbos educativos do patrimônio: criar, inventar, informar, discutir, preservar e distribuir."
